Por Karl Barth
1) O pregador deve-se sentir interiormente chamado. Ele deve
conhecer a necessidade de sua vocação, e aí ceder de todo seu coração.
Portanto, o "eu não posso fazer de outra maneira" é envolvido por
todos os tipos de questões. Esta, por exemplo: a exigência interior pretendida
não seria talvez a satisfação de um desejo próprio? Observemos que o apelo
interior que nós cremos reconhecer não é decisivo que venha de nosso saber quer
de nosso sentimento mas apenas daquela voz imperativa que é de Deus.
2) Os textos
relativos aos presbíteros e diáconos nas Epístolas pastorais (I Timóteo 3.1-7,
8.13; II Timóteo 4.1; 5.9), contêm catálogos helênicos de virtudes, ordens
concernentes àquele que assume a função de pregador. "Homem
irrepreensível", ele não deve comprometer essa função por um gênero de
vida que vá de encontro à moral e aos costumes vigentes. Por uma participação afastando-se muito do normal e
revelando muito contingências humanas, muito humanas deste mundo. Não deve
atrair sobre sua pessoa de um modo inútil a atenção, para que, por isso, o
interesse não seja afastado do Evangelho. Estas recomendações éticas têm
evidentemente por objetivo lembrar que o servo da Palavra assume o seu cargo
diante de Deus. Todavia, se se compreender que estas ordens são decorrentes da
Lei de Deus, o homem deve reconhecer que está constantemente em falta. Se ele
pode manter-se diante de Deus, é unicamente porque é justificado em Cristo, por
meio da fé.
3) Por outro lado, sempre nas Pastorais, requer-se do pregador, que
ele tenha competência (I Timóteo 3.2, II Timóteo 2.24). Segundo o costume da
Igreja, compreendemos por aí a cultura científica dos teólogos. O pregador não
tem o direito de se remeter preguiçosamente ao Espírito Santo as tarefas de seu
cargo. Com toda a modéstia e seriedade, ele deve trabalhar, lutar, para
apresentar corretamente a Palavra sabendo perfeitamente que o recte docere não
pode ser realizado, senão só pelo Espírito Santo. É por isso que a Igreja, se
ela tem consciência de suas responsabilidades, não pode tolerar que qualquer
pessoa tenha o direito de anunciar a Palavra sem cultura teológica. Entretanto,
não nos esqueçamos que a verdadeira pregação nos é ensinada pelo Espírito
Santo, sendo a Ele submetida a cultura teológica.
4) Como já assinalamos, o
pregador tem uma posição diferente da dos apóstolos: é pela vontade da
comunidade que ele está colocado onde está. A função que ele ocupa, pertence à
Ecclesia. Ela vem da comunidade e é exercida na comunidade. Entretanto, o fato
de ser chamado por uma comunidade, não impede que ele deva ser chamado por
Deus.